domingo, 8 de janeiro de 2012

Risadas na Torre


Por Leandro Zerbinatti de Oliveira

Lá estava eu, em uma paisagem agradável, antiga e de certa forma obscura. Era uma colina recoberta por uma grama rala.

Quase na extremidade leste havia uma torre quadrada, feita de blocos de granito. A construção era velha, provavelmente da época do medievo, com musgo crescendo por suas paredes. Quatro eram seus andares.

Por curiosidade (ou qualquer que seja o nome da força que me impulsionou) eu entrei. Cada piso consistia em um único cômodo quadrado, com uma escada de pedra que acompanhava o formato da parede e levava a andar superior. Somente o piso do térreo era de pedra bruta, os demais eram de assoalho, servindo tanto de chão para um andar quanto de teto para o outro.

A fraca iluminação era provida por velas apoiadas sobre as superfícies, candelabros ou lustres rústicos de madeira.

Repentinamente eu me vi no segundo andar. Era um pequeno atelier onde um pintor da renascença retratava uma paisagem bucólica. Com um chapéu de uma aba dobrada, adornado com uma pena vermelha, sobre sua cabeleira negra, longa e cacheada, e com seu bigode encerado, o jovem sequer prestou atenção em mim.

Logo depois fui para o exterior da torre, a fim de me encontrar com meu caro irmão para aguardarmos o compromisso noturno.

Em um piscar de olhos já havia escurecido e nos encontrávamos lá, sem saber como, sentados à mesa, no cômodo localizado em um dos últimos andares. Sobre a superfície de madeira antiga estavam dispostas várias bandejas e tigelas contendo carnes e sopas.

Todos os assentos estavam ocupados, mas a maioria eram borrões, faces indistinguíveis à minha memória. Mas eu reconheci nitidamente meu caro irmão, o pintor e o velho. Sim, havia um velho de expressão severa, olhos fundos e rosto magro, que usava um pequeno capuz de couro sobre o topo dos seus cabelos ralos e grisalhos.

Foi então que aconteceu, sabe-se lá por que, meu irmão e eu fomos tomados por um humor súbito e desatamos a gargalhar incontrolavelmente...como dois sádicos diante de um genocídio. Alguém nos alertou; o velho não ia gostar daquilo, e de fato. Ele, que molhava um pedaço de pão recém partido na sopa, levantou a cabeça para nos dirigir um olhar carrancudo. Sem dizer nada apenas olhou, e nós rimos e rimos...

Até hoje eu não sei que lugar era aquele, ou quem eram aquelas pessoas.

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